Associação de auditores vai à Justiça contra parecer que aprovou contas de Sérgio Cabral
Publicação em 17 de agosto de 2015

Técnicos do Tribunal de Contas do Estado recomendaram reprovação por causa de dívida não contabilizada de R$ 1 bilhão

Por Hudson Corrêa

Foto: Agência Brasil

Em abril de 2014, Sérgio Cabral sorri durante a passagem de cargo de governador para seu vice, Luis Fernando Pezão

A Associação Nacional dos Auditores de Controle Externo (ANTC) anunciou que vai questionar na Justiça o parecer favorável à aprovação das contas, relativas a 2014, do ex-governador Sérgio Cabral e do atual governador, Luiz Fernando Pezão, ambos do PMDB. Reportagem de ÉPOCA, publicada na sexta-feira (31), revelou que uma dívida de R$ 1 bilhão deixou de ser contabilizada em 2014. Pezão assumiu o governo em abril do ano passado e se reelegeu.

Inicialmente, a equipe de 20 auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) recomendou a reprovação das contas, em parecer de 600 páginas, entendendo que houve desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. A recomendação foi modificada pelo secretário-geral de Controle Externo, Carlos Roberto Leal, em um relatório de 60 páginas. No plenário do TCE, os sete conselheiros aprovaram o parecer de Leal. Agora as contas do governo estadual irão à votação na Assembleia Legislativa, que voltou de recesso e analisará o processo.

Em abril de 2014, Sérgio Cabral sorri durante a passagem de cargo de governador para seu vice, Luis Fernando Pezão (Foto: Agência Brasil)

Segundo a ANTC, Leal é um funcionário de nível médio do TCE-RJ que não poderia chefiar os auditores, nem dar a palavra final sobre as contas. A presidente da associação, Lucieni Pereira, afirma que a lei estadual 4.787, de 2006, determina que o parecer prévio só poderia ser elaborado por um auditor, antes de ser submetido ao plenário do TCE-RJ. “É nossa obrigação atuar para evitar uma crise de legitimidade pela flagrante inversão de papéis no TCE-RJ” disse Lucieni. Segundo ela, a Justiça pode anular a análise das contas.

Por meio de sua assessoria, os conselheiros do TCE-RJ afirmam que não houve qualquer irregularidade no exame das contas. “Os analistas do corpo técnico do TCE-RJ emitem os seus entendimentos a respeito das contas analisadas, prevalecendo, ao final, o parecer elaborado pelo secretário-geral”, informou o TCE-RJ. O órgão não informou, no entanto, se Carlos Roberto Leal tem formação de nível médio ou superior. A Assembleia Legislativa analisará toda a documentação, inclusive o parecer de 600 páginas rejeitado.

O ex-governador Cabral afirmou, via assessoria, que “a contabilização de receitas e despesas governamentais é feita ao fim de cada ano fiscal”. Por meio das secretarias de Planejamento e Fazenda, Pezão disse que não houve irregularidade e nem desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal, mas admite que a lei determina a contabilização de dívidas. O valor de R$ 1 bilhão influencia no resultado da execução orçamentária, que coloca na balança a receita arrecadada e a despesa empenhada. Sem o valor não contabilizado, há um superávit de R$ 122 milhões. Com o registro da soma ocultada, chega-se um déficit de R$ 878 milhões nas contas do Estado em 2014.

Fonte: Revista Época